Após mais de uma década sem uma avaliação mundial do estado do conhecimento sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos, está em fase de conclusão, o diagnóstico mais abrangente da IPBES. Ao longo de três anos, 150 especialistas de mais de 50 países do mundo contribuíram voluntariamente para a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). A terceira e última reunião de autores aconteceu em Frankfurt, Alemanha, no Centro de Pesquisa de Biodiversidade e Clima Senckenberg (BiK- F).
O Diagnóstico Global da Biodiversidade e dos Serviços Ecossistêmicos está sendo coordenado por três cientistas, dentre eles, o brasileiro estabelecido nos EUA, Eduardo S. Brondízio, que divide a função com o alemão Josef Settele e a argentina Sandra Díaz. O documento final será apreciado na próxima plenária da IPBES, que ocorrerá em março de 2019, em Paris.
O relatório aborda as mudanças ocorridas nos últimos 50 anos nos ecossistemas terrestres, águas interiores e oceanos além de apresentar cenários futuros baseado em opções de política. A expectativa é de que os achados do Diagnóstico possam informar e apoiar a tomada de decisão sobre a biodiversidade até 2030 e além.
“O Diagnóstico Global da IPBES é, em muitos aspectos, sucessora do marco Avaliação Ecossistêmica do Milênio, publicado em 2005”, disse o Prof. Josef Settele. “Desde então, o mundo concordou com uma série de compromissos fundamentais – como as Metas de Biodiversidade de Aichi, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris sobre mudança climática. O Diagnóstico Global ajudará os tomadores de decisão, em todos os níveis, a avaliar o progresso, identificar as principais lacunas e considerar uma série de opções de políticas para atender a esses compromissos principais. De particular importância em nossa pesquisa tem sido explorar maneiras reduzir as mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade e o ambiente global de forma mais ampla”, complementa o coordenador alemão.
Além de trazer o estado da arte sobre o conhecimento de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, os relatórios da IPBES têm o poder de um instrumento político uma vez que são aprovados pelos países membros da Plataforma, explica o Prof. Carlos Joly, coordenador da BPBES e do Programa Fapesp. “Isto portanto, deve favorecer as chances de seus resultados serem adotados como diretrizes pelos países”
Sete autores brasileiros colaboraram com o Diagnóstico Global. São eles: Manuela Carneiro da Cunha (Univ. Chicago/USP), Pedro Brancalion (USP), Cristina Adams (USP), Rafael Loyola (UFG), Ana Paula Dutra de Aguiar (INPE), Bernardo Strassburg (PUC Rio e IIS) e Gabriel Lui (MMA).
Novas avaliações temáticas: múltiplos valores da biodiversidade e espécies selvagens
Sir Robert Watson, presidente da IPBES, também aproveitou a reunião para anunciar oficialmente a seleção dos especialistas que conduzirão duas novas avaliações da IPBES a partir deste ano.
A primeira nova avaliação, que tecnicamente foi designada “Ferramentas de suporte e metodologias referentes à utilização de das diversas concepções dos valores da biodiversidade e das contribuições da natureza para as pessoas, incluindo os serviços ecossistêmicos” tem como objetivo identificar as metodologias utilizadas para esta avaliação por povos com diversas concepções, visões e relações com a natureza.
Os coordenadores desta avaliação da IPBES são: Prof. Patricia Balvanera (Instituto de Pesquisa em Ecossistemas e Sustentabilidade, Universidade Nacional Autônoma do México); Brigitte Baptiste (diretora geral do Instituto Alexander von Humboldt, Colômbia); Prof. Unai Pascual (Ikerbasque Professor de Pesquisa do Centro Basco de Mudanças Climáticas -BC3, Espanha, e Pesquisador Sênior Associado do Centro de Desenvolvimento e Meio Ambiente – CDE, Universidade de Berna, Suíça); e Prof. Mike Christie (Diretor de Pesquisa, Instituto de Negócios e Direito, Aberystwyth University, Reino Unido). A unidade de apoio técnico, que coordenará a produção desta avaliação, ficará baseada em Morelia, no México, e hospedada pelo Instituto de Pesquisa em Ecossistemas e Sustentabilidade (IIES-UNAM), a Secretaria de Desenvolvimento Institucional (SDI-UNAM), e o Seminário Universitário sobre Sociedade, Meio Ambiente e Instituições (SUSMAI-UNAM), todos dentro da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), e a Comissão Mexicana de Conhecimento e Uso da Biodiversidade (CONABIO).
O segundo novo diagnóstico da IPBES, que tecnicamente é designado como “Uso sustentável de espécies silvestres”, tem como objetivo determinar o valor e a importância ecológica, econômica, social e cultural, bem como o status da conservação e os vetores que afetam a sobrevivência e sustentabilidade das populações das principais espécies silvestres de valor econômico.
Os coordenadores deste diagnóstico da IPBES são: Dra. Marla R. Emery (Geógrafa de Pesquisa do Departamento de Agricultura, Pesquisa e Desenvolvimento de Serviços Florestais dos Estados Unidos); Dr. Jean-Marc Fromentin (Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (lFREMER)); e Prof John Donaldson (Diretor Chefe – Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade, Instituto Nacional de Biodiversidade da África do Sul). A unidade de apoio técnico será sediada em Montpellier, França e co-organizada por duas organizações, a Fundação para Pesquisa em Biodiversidade (FRB), e a Agência Francesa para a Biodiversidade (AFB).
Estes 2 diagnósticos, assim como o diagnóstico de “Espécies Invasoras e seu Controle” – com início previsto para 2019 -, ainda fazem parte do primeiro Programa de Trabalho da IPBES, e não foram iniciados antes por falta de recursos.