Que as más decisões de planejamento urbano podem aumentar a pressão sobre os ecossistemas vulneráveis não parece soar como novidade. Entretanto, visualizar essas informações em formato de mapas, com os pontos de tensão localizados, traz objetividade a estas constatações. Foi esta a ideia do professor do Departamento de Arquitetura Paisagística na Universidade da Pensilvânia (EUA) e idealizador do projeto “Atlas para o Fim do Mundo”, Richard Weller. O arquiteto australiano argumenta que o planejamento urbano feito com objetivos de conservação traz uma força ainda pouco explorada.
O Atlas para o Fim do Mundo é uma coleção de mapas e infográficos que cobrem dois aspectos importantíssimos para conservação da biodiversidade. Primeiramente, as áreas naturais protegidas em locais ricos em biodiversidade e simultaneamente ameaçados, os chamados hotspots da biodiversidade. O segundo aspecto é a avaliação de quais cidades nesses locais estão crescendo de forma em pôr em risco as vegetações remanescentes e suas espécies ameaçadas.
Existem 422 cidades com pelo menos 300.000 pessoas nos 36 hotspots de biodiversidade. Muitas delas estão crescendo e poucas têm planejamento urbano sistemático, o que prepara o cenário futuro urbano para conflitos e tensões. Weller e seus co-autores, Claire Hoch e Chieh Huang, usaram previsões de crescimento urbano de pesquisadores da Universidade de Yale para mapear onde esses conflitos provavelmente ocorrerão nos próximos anos.
As análises de áreas naturais protegidas colocam como parâmetro as 20 Metas de Biodiversidade de Aichi, acordado pelos 196 países signatários da Convenção da Diversidade Biológica (CDB). O Atlas aborda especificamente a meta 11, que afirma que, até 2020, 17% da área terrestre do mundo será protegida.
Os pesquisadores do Atlas cruzaram o crescimento projetado para as cidades com os dados sobre cobertura vegetação remanescente e animais terrestres ameaçados de extinção, segundo a Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) de 2017.
O resultado das análises e mapas constataram que apenas 14 dos hotspots atingiram a meta de 17% de áreas protegidas da ONU em 2016. A fim de obter uma imagem mais clara do que isso significa, os pesquisadores subdividiram cada hotspot em suas ecorregiões, totalizando, 391 ecorregiões diferentes. Por esta perspectiva, apenas 43% tinham atingido a meta 11 de Aichi.
Em 2016, cerca de 15,4% da área terrestre do mundo e 3,4% dos oceanos foram formalmente protegidos. Isso significa que, para alcançar a meta de garantir 17% de área terrestre protegida até 2020, é necessário um adicional de 1,6% da área terrestre global. Isso representa 2.327.800 km2, o equivalente a um Estado do Amazonas e meio.
A análise de pressões urbanas em cada hotspot apontou que das 422 cidades com mais de 300 mil habitantes dos hotspots, 383 avançarão em direção ao habitat vulnerável. Menos precisamente quantificável, mas não menos alarmante, é que muitas dessas cidades não parecem ter estratégias de planejamento urbano para evitar essa calamidade. Da mesma forma, muitas das nações responsáveis por manejar as áreas de hotspots não parecem ter planos nacionais de uso da terra que incorporem seriamente a preservação da biodiversidade.
O Atlas possui mapas detalhados para cada hotspot mostrando os diferentes ecossistemas dentro deles e as ameaças da atividade humana, como mineração, agricultura e urbanização. Outros mapas e infográficos observam as influências regionais e globais que podem comprometer os esforços de conservação, desde a produção de energia até a corrupção governamental e a produção de alimentos para uma população humana que deve atingir os 10 bilhões até o final do século.
Para o Brasil encontramos informações sobre São Paulo, Brasília, Mata Atlântica e Cerrado.
É nesse ponto que Weller acha que seus colegas na arquitetura paisagística e no planejamento urbano podem desempenhar um papel maior. “O que fazemos é modelar diferentes cenários e procurar oportunidades para absorver o crescimento populacional de modo a remodelar a cidade de uma determinada maneira”, diz ele. O desafio é que cada cidade é única e requer seu próprio plano para equilibrar o crescimento com os impactos na biodiversidade. Há muito trabalho até 2020.